Para dar início a este capítulo, é preciso que o leitor esteja bem ciente de três verdades científicas sobre infecções de vias aéreas superiores em crianças que estão bem sedimentadas na medicina moderna. Apesar de às vezes parecer que não, estas afirmações são de conhecimento de todos os pediatras em atividade; são elas:
1- NÃO EXISTE, na medicina atual, nenhum tipo de tratamento para qualquer infecção VIRAL que já esteja instalada (quando os sintomas mais leves já iniciaram);
2- A IMENSA MAIORIA das infecções em crianças pequenas é de origem VIRAL (mais de 90%) e, portanto, não tem tratamento pela medicina atual, e não terá em um futuro próximo.
(recomenda-se apenas o uso de sintomáticos para controlar a febre e aliviar a dor).
3- ANTIBIÓTICOS E ANTI-INFLAMATÓRIOS, em uma infecção viral, podem piorar o quadro inicial e causarem complicações graves para a criança.
Essas três afirmações acima, são unanimidades entre todos os pediatras, inclusive foram retiradas de publicações da própria da Sociedade Brasileira de Pediatria! Agora passemos para a realidade:
Do total de vezes que seu filho apresentou febre alta, tosse, coriza e dor no corpo e você levou a um consultório ou emergência de pediatria, em quantas delas o pediatra passou antibióticos?
Se sua resposta foi: ” – Em todas elas!”, perceba que seu filho foi prejudicado 9 entre 10 vezes que foi ao pediatra, além de ter corrido o risco de uma complicação grave decorrente de uma simples gripe ou resfriado por irresponsabilidade do mesmo.
Porém, ouço muitas mães afirmarem com total convicção:
” – Meu filho sempre melhora com os remédios passados pelo pediatra, portanto, ele sempre acerta…”
Pois é, elas “acham” que foi o pediatra que curou seu filho!
Na verdade, infecções virais do tipo gripes e resfriados, duram normalmente 5 a 7 dias, e independente de qualquer coisa que o médico faça (qualquer coisa mesmo), a infecção tem três fases bem definidas:
– Primeiro dia: sintomas bem leves, às vezes passam até desapercebidos pelas mães…
– Segundo dia: sintomas moderados, geralmente começa a aparecer, como: febre mais alta, coriza, tosse, irritação nos olhos e garganta, eventualmente dor de ouvido leve e queda do estado geral…
– terceiro dia: é o pico de todos os sintomas já citados anteriormente, quando eles estão mais fortes e assustam as mães (esse pico pode ocorrer no quarto dia também). É nesses dias que as mães geralmente levam seus filhos ao pediatra, seja em um consultório, seja em uma emergência.
Após esse dia de “pico”, independente da criança tomar os melhores antibióticos, xaropes, remédios sofisticados, ir a uma benzedeira, tomar mel, limão, chá, vitaminas, ou não tomar absolutamente NADA, ela vai melhorar (no mesmo intervalo de tempo)! E vai seguir melhorando nos próximos dois ou três dias, até ficar totalmente curada!
Se o pediatra intervir, duas coisas podem acontecer:
– Aquele monte de remédios que ele passou podem não causar mal e a criança melhorar mesmo assim, que é muito mais comum; ou…
– Os remédios podem predispor a uma infeção bacteriana grave, resultando em internação, ou até mesmo U.T.I. (conheço pessoalmente vários casos)!
Nos dois casos, o pediatra fica em uma situação confortável: na primeira, por ter curado a criança e na segunda, por ter tentado e, apesar dos esforços, não ter conseguido evitar o pior…
Ou seja: Leva fama de bom, mesmo tendo culpa!
Mas já que seu médico não sabe (ou não quer) diferenciar uma infecção bacteriana de uma viral, ficando na cômoda situação de prescrever sempre a mesma longa lista de remédios para todos os seus “clientes”, independente do tipo de infecção, existem formas para que vocês mesmos (mãe e pai) saibam quais os principais sinais que diferenciam uma INFECÇÃO BACTERIANA de uma INFECÇÃO VIRAL, são eles:
– FEBRE não serve para diferenciar, pois as duas infecções causam febre alta, porém, na ausência de febre, praticamente se descarta a possibilidade de INFECÇÃO BACTERIANA! Outra coisa, na INFECÇÃO BACTERIANA, a criança continua muito amolecida e quieta, mesmo depois que a febre passa, sob efeito do antitérmico (remédio para febre). No caso da INFECÇÃO VIRAL, ao contrário, assim que o antitérmico faz efeito, parece que a criança recupera todas as energias e volta a se sentir bem!
– A INFECÇÃO BACTERIANA normalmente tira totalmente o apetite da criança; no caso da INFECÇÃO VIRAL, o apetite costuma ser normal, quando a criança está sob efeito do antitérmico!
– A INFECÇÃO BACTERIANA nunca acomete vários órgãos de uma só vez, portanto: Uma amigdalite bacteriana (infecção de garganta), por exemplo, acomete só a garganta; nariz e ouvido não! Uma otite bacteriana, por sua vez, acomete só o ouvido e geralmente não causa sintomas na garganta e nariz. AS INFECÇÕES VIRAIS, por sua vez, geralmente acometem vários órgãos mesmo tempo: ouvido, nariz, garganta e até olhos, tudo junto!
– A INFECÇÃO VIRAL geralmente dura cinco, ou no máximo sete dias (existem infecções virais que duram mais, mas é raridade) e as bacterianas costumam demorar mais, não regredindo espontaneamente.
Portanto, se não for caso de vida ou morte e você se preocupa de verdade com a saúde do seu filho (não está apenas querendo se livrar da responsabilidade), espere sempre 4 ou 5 dias antes de levar seu filho com febre ao médico… A SAÚDE DELE AGRADECE!
Outra coisa (mais importante): Evite ao máximo ir a emergências de hospitais e clínicas particulares, além de contratarem pediatras inseguros e inexperientes, as salas de espera desses locais são carregadas de vírus e bactérias multi-resistentes…
Muitas vezes, ao levar o seu filho em uma emergência, você troca um resfriado simples por uma infeção de maior gravidade! E atenção, não estou falando de emergências do SUS, mas dos melhores hospitais particulares do país!*
*Nota: Na realidade, se o hospital fosse realmente bom, ele deveria até impedir que a mãe levasse seu filho com um quadro leve para consultar, justamente para preservar a saúde da criança, porém, qualquer diretor de hospital particular que tomasse uma atitude dessas, apesar de estar salvando muitas vidas, certamente seria imediatamente demitido por estar trazendo prejuízo financeiro ao hospital!
Dr. Renato Paula da Silva.
(Médico com mais de 15 anos de experiência na área)