Não estou aqui para dizer que acho bom castigar pacientes privilegiados que podem pagar os melhores planos de saúde do mercado, mas infelizmente eles estão sendo castigados sim. E eu posso provar…
Se você for privilegiado em possuir um dos melhores planos de saúde do mercado brasileiro; for saudável (ou, no máximo, possuir alguma doença leve); tiver entre 30 e 60 anos; e estiver decidido a fazer um check-up executivo em uma clínica/ hospital de luxo, provavelmente vão te pedir os seguintes exames:
Angiotomografia de Aorta Torácica
Angiotomografia de Aorta Abominal
Angiotomografia de Coronárias
Tomografia Computadorizada de Crânio
Tomografia Computadorizada de Tórax
Tomografia Computadorizada de Abdome Total
Angio Ressonância de Crânio e/ou de Vasos Cervicais
Ecodoppler de Carótidas e Vertebrais
Ecodoppler Arterial dos Membros Inferiores
Ecodoppler Venoso dos Membros Inferiores
Ecodoppler de Aorta Abdominal e/ou de Artérias Renais e/ou de Artérias Ilíacas
Doppler de Tireoide
Ultrassonografia/ Ecografia de Abdome Total e/ou de Rins e Vias Urinárias
Ultrassonografia/ Ecografia de Mamas e Mamografia (se mulher)
Ultrassonografia Transvaginal (se mulher)
Ultrassonografia e/ou Doppler de Testículos (se homem)
Ultrassonografia de Próstata (se homem)
Dezenas e dezenas de exames de sangue
O que esses exames têm em comum? (além de causar mal pra saúde).
É que levam uma falsa impressão de segurança ao paciente…
Quando a vítima, digo, o paciente, realiza uma lista extensa de exames como essa, ele tem a falsa impressão que foi “bem avaliado”. Mas será que foi mesmo?
Na verdade, nessa lista inteira que eu citei – apenas os exames de doppler de tireoide, mamografia, ultrassonografia transvaginal e ecodoppler de carótidas – podem servir (ainda que não em todas as situações) como verdadeiros exames de rotina!
TODOS OS OUTROS, não apenas não servem como rotina (só são úteis em casos de suspeita de doença), como também podem ser muito prejudiciais à saúde…
Se colocássemos um dosímetro individual (aparelho usado para medir a radiação recebida por um profissional que trabalha com exames de radiação) no bolso de um paciente desses no início do check-up e tirássemos ao final, a quantidade de radiação recebida só nos seis primeiros exames dessa lista seria tão alta que, caso ele fosse um profissional que trabalhasse com radiação, ele teria que se afastar do trabalho por seis meses, no mínimo… É tanta radiação que pode ser comparada à recebida por sobreviventes de bombas atômicas, guardadas as devidas proporções…
Notem que eu poderia discorrer por horas aqui, falando dos grandes riscos de falsos positivos associados a exames de ecodoppler e de sangue, quando são mal indicados (como no caso acima), mas procurei me deter a algo mais simples, palpável e mensurável. Utilizando informações dos próprios fabricantes dos equipamentos, simplesmente somei a média da radiação absorvida pelo paciente para os seis primeiros exames da lista…
É que esses exames não foram criados para serem exames de rotina, mas para serem exames de última linha (quando todos os exames mais simples falharam) e, por isso, NUNCA poderiam ser solicitados juntos para o mesmo paciente…
Por fim, acho que a pergunta que precisa ser respondida não é por nós médicos e nem pelos pacientes, mas sim pelos donos de clínicas e hospitais:
Precisamos mesmo causar tanto mal à saúde das pessoas apenas para passar a falsa impressão de um atendimento VIP?
Os portadores de planos de saúde TOP precisam pagar com a própria saúde apenas para aumentar o lucro dos prestadores de serviço?
São perguntas que permanecem sem resposta…

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